Carnaval: gigantismo dos blocos e falta de segurança ameaçam foliões do Rio
O jogo de empurra e o desencontro de informações entregam a segurança
dos foliões nos blocos à própria sorte ou, talvez, a alguma proteção
divina. Em
caso de acidentes, como aconteceu no ano passado no Cordão do Bola
Preta, os
foliões não podem esperar da Prefeitura um plano de evacuação que impeça
uma
tragédia. Apesar dos desfiles acontecerem em locais abertos, é
obrigatória a
organização de uma estratégia de segurança capaz de atuar na prevenção
de
acidentes graves. Contudo, não é isso que acontece no Carnaval do Rio de
Janeiro. Este problema se torna ainda mais grave com a constatação de
que, a cada ano, os blocos atraem mais e mais participantes. O
gigantismo aliado à falta de prevenção se transforma numa perigosa
fórmula cujo resultado pode ser catastrófico.
A Riotur recebe o cadastro dos blocos e faz a triagem dos
que serão autorizados a desfilar, priorizando os blocos mais tradicionais e
negociando mudanças no trajeto em caso de blocos grandes e recentes. É
preenchida uma ficha que, entre outras questões, informa o número de foliões
esperados e, segundo a Prefeitura, esse também é um critério para avaliação.
Sendo assim, blocos que desfilam com um milhão de foliões, por exemplo, recebem
aval da Prefeitura e vão para as ruas.
Neste ano, o Cordão da Bola Preta levou 1,3 milhão de pessoas ao Centro do Rio
Dessa forma, espera-se que haja um plano de segurança capaz
de evitar acidentes, situações de risco e pânico dentro dos blocos. Mas não é isso
que acontece. O Jornal do Brasil procurou a Riotur, que, primeiramente, informou que o
trabalho dos vendedores ambulantes é regido pela Prefeitura, que proíbe
carrinhos, braseiros, garrafas entre outros artigos. A Riotur também alegou que
a segurança nos blocos é organizada em parceria com os próprios e que tudo é
definido com “diálogo e organização”.
Contudo, Rita Fernandes, presidente da Sebastiana -
Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa
e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro – contou que “esse é um
assunto novo. Nunca foi tratado com a Prefeitura”. Rita disse ainda que, “por
iniciativa própria, para o próximo ano, a Sebastiana vai fazer um workshop com especialistas que possam orientar os procedimentos e a atuação em situações de risco.” Rita
disse ainda que “é uma ação necessária devido ao aumento do número de foliões a
cada ano” e completou ressaltando que “não adianta a Sebastiana fazer sozinha,
temos que fazer junto com o poder público”.
A Riotur não soube informar se a Antarctica, patrocinadora
do Carnaval da cidade, teria algum tipo de participação na organização de um
plano de segurança. Procurada, a Ambev declarou: “A Antarctica atende a
todos os itens estipulados pelo caderno de encargos da Prefeitura, seguindo o
que o município acredita como adequado para atender uma das maiores
manifestações populares do Brasil. Demais questões como segurança e limpeza
sugerimos que entre em contato com a organização oficial do evento - Prefeitura
e RioTur -, responsável pelo planejamento de toda a estrutura para mais
informações.”
A Dream Factory, que organiza o Carnaval do Rio há cinco anos, é
responsável pela parte estrutural do evento. Entre as ações realizadas pela
empresa estão a instalação e manutenção de banheiros químicos, cercamento de
canteiros, instalação de postos médicos e credenciamento de ambulantes. A
empresa declarou que cumpre as exigências da Prefeitura e afirmou não ter
participação na montagem de um esquema de segurança. Contudo, a organizadora do
Carnaval também não soube dizer quem seria o responsável pela segurança.
Novamente procurada, a Riotur informou: “O Centro de
Operações monitora os maiores blocos e pode acionar o efetivo da Guarda
Municipal próximo ao local em tempo real. Os grandes blocos contam com
ambulâncias também, sem falar que montamos postos médicos no trajeto deles
(centro e zona sul)”. Concluindo, assim, que não há um trabalho de prevenção de
acidentes ou um plano de ação. Nesse caso, se houver algum problema, será
necessário esperar a Guarda Municipal ser acionada e chegar ao bloco para
começar a dispersão dos foliões.
Centro do Rio tomado de foliões durante o carnaval
O
especialista em gerenciamento de risco da Coppe UFRJ, Moacyr Duarte,
destaca: “Alguns blocos precisam de mais monitoramento, como as
Carmelitas, em Santa Teresa. Como as ruas são mais estreitas, a situação
ali é
mais delicada”. Ele esclarece que como normalmente os blocos acontecem
em locais abertos,
o número de vítimas não será proporcional ao número de foliões, mas as
pessoas
mais próximas ao local onde supostamente acontecer algum problema serão
afetadas.
O Corpo de Bombeiros destaca que o planejamento é
primordial, como em qualquer evento. E a segurança do público
frequentador é um ponto que
não pode deixar de ser atendido. Em relação aos blocos de Carnaval,
devem ser
cumpridas algumas determinações. É necessário que o responsável dê
entrada na
FARE (Ficha de Avaliação de Risco em Evento), que é expedida pelo
CBMERJ. Com
público acima de mil e até 5 mil pessoas, também é necessária a presença
de uma ambulância, um médico e um enfermeiro. Entre 5 mil e 20 mil,
duas ambulâncias, dois médicos e dois enfermeiros. De 20 a 30 mil, três
ambulâncias, seis médicos e seis enfermeiros. De 30 a 40 mil, quatro
ambulâncias, oito médicos e oito enfermeiros. A instituição afirmou
também que os
organizadores dos blocos são responsáveis por providenciar os
profissionais da
saúde. No caso de blocos com mais de
40 mil foliões, os “recursos são definidos em avaliação especial”, ou
seja, “novas
definições de quantidade e posicionamento de médicos, profissionais de
enfermagem e ambulâncias, que levam em conta outras variáveis do
evento.”
No ano passado, um tumulto durante o desfile do Cordão
do Bola
Preta, que contava de 1,8 milhão de foliões, colocou em risco quem
acompanhava o desfile. Em sua página oficial, a
organização do bloco divulgou a seguinte nota: “O Bola aguarda reunião
com a
Riotur para entender o que houve em relação à segurança dos foliões.
Problemas
como o posicionamento inadequado dos carros da PM e do efetivo policial,
a
necessidade de instalação de torres de controle, como é feito no
Réveillon,
grades instaladas ao longo do trajeto e na Cinelândia, que dificultam o
escape
em situação de emergência, assim como, excesso de barracas de ambulantes
(churrascos, bebidas, etc) impedindo circulação, entre outros, já haviam
sido
identificados pelo Cordão e comunicados previamente às autoridades.
Sempre tivemos o apoio do Poder Público e estamos certos da atenção de
todos”. Já a
Riotur diz que “uma emissora de televisão colocou grades para cercar as
câmeras e os foliões que estavam próximos acabaram prensados”. A Riotur
afirmou não ter responsabilidade no acidente e pediu para que situações
como
essa fossem evitadas.
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