O goleiro Aranha se manifestou depois do depoimento dado
pela gremista Patrícia Moreira, flagrada chamando ele de “macaco” na
partida
entre Grêmio e Santos, pelas oitavas de final da Copa do Brasil, na
Arena.
Na última sexta-feira, ela chorou e pediu desculpas ao santista. Depois
da vitória por 3 a 1 do Peixe sobre o Vitória, neste sábado, no
Pacaembu, o camisa 1 disse, em entrevista
coletiva, que perdoa a torcedora, mas que espera a justiça ser feita e
que ela seja
responsabilizada pelo o que fez.
- Estou a desculpando, mas infelizmente, por
um erro que cometeu, vai ter de pagar. Queriam que eu desse o perdão sem
ela me
pedir desculpas. Acompanhei todo o caso, os amigos dela mostraram que
ela não é
racista, mas ela sumiu, deletou perfis das redes sociais, não falou com
ninguém. Demorou muito tempo para tomar uma atitude. Pelo menos (a
polêmica) ajudou a causa (contra o racismo). Como cristão, como ser
humano, precisava do pedido dela para desculpar. Isso não quer dizer que
eu não
quero que a justiça seja feita. Ela errou, tem as consequências - disse o
goleiro.
Depois de mais de uma semana do caso, que resultou na exclusão
do Grêmio da Copa do Brasil, Aranha está satisfeito e agradeceu à imprensa pela
divulgação do que aconteceu em Porto Alegre. Em contrapartida, o goleiro do
Peixe disse que não foi apenas Patrícia Moreira a responsável pelas injúrias
raciais e lamentou o que fizeram com a garota.
- Estou satisfeito com algumas coisas que aconteceram e um
pouco chateado com outras. Estou satisfeito com a mobilização. Agradeço à
imprensa por repassar todas as informações. Precisamos ter coragem para
combater isso. Estou satisfeito com a reação das pessoas. Vi que muita gente
não concorda com isso (racismo). Mas estou chateado pelo o que aconteceu com a
casa da garota, que foi apedrejada. Ameaçaram ela, também. Não foi só ela. Um
erro não justifica o outro e se queremos uma nação mais justa também temos que
respeitar o próximo - falou.
Durante a entrevista coletiva, Aranha voltou a dizer que não
acha necessário um encontro entre ele e a torcedora, preferiu não se
manifestar a respeito da eliminação do Grêmio da Copa do Brasil e citou a
partida contra o Botafogo, três dias após o caso na Arena, na qual ele recebeu
o apoio da torcida adversária.
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Aranha espera que o caso ajude a diminuir o racismo nos estádios (Foto: Nelson Antonie / Agência estado) |
Confira os principais trechos da entrevista do goleiro do
Santos:
ENCONTRO COM A GREMISTA
- Eu não vejo necessidade, porque já poderiam dizer que eu
quero me promover. Não é o fato de encontrá-la que vai mudar as coisas. Não sou
amigo dela, não tenho interesse em conhecê-la. Perdoo, mas vai pagar pelo o que
fez.
RACISMO NA SOCIEDADE
- A maioria da população me apoiou e se mostrou indignada
com a situação. Acho que o que aconteceu comigo vai servir para mudar muita
coisa na postura das pessoas. Logo depois de sairmos de Porto Alegre (onde o caso
aconteceu), a torcida do Botafogo gritou meu nome (no Maracanã).
Em momento algum nosso time foi xingado, vaiado, e o Botafogo ganhou. Isso é
uma prova que xingamento não influencia na partida.
PUNIÇÃO AO GRÊMIO
- Sobre as regras, sobre a lei, tem outras pessoas mais
competentes para falar, mas eu agradeço o empenho de todos para que as coisas
fossem adiante. Gostar ou não
da punição do STJD aio Grêmio não cabe a mim. Gostaríamos de vencer dentro de campo, mas a
lei existe para isso. Em momento algum nosso time procurou essa situação. Já me
falaram que eu estava prejudicando a vida da garota. Quem se prejudicou foi ela
quando tomou a atitude. Às vezes, algumas pessoas tentam distorcer as coisas,
levar para o outro lado. Está bem claro, o vídeo mostra. Eu tomei a atitude que
eu deveria tomar mesmo: eu ouvi, relatei. Isso é o processo natural das coisas.
Se não fosse tomada uma atitude, praticamente estariam concordando com o que
aconteceu. E isso iria se arrastar por mais anos e anos. (A punição) vai servir não
para as pessoas que estavam xingando, mas para as outras pessoas de bem, que são
a maioria, vigiarem e excluírem o racismo de seu meio. É o
pensamento que tem de ser esclarecido.
Entenda o caso
Na partida de ida das oitavas de final da Copa do Brasil,
entre Santos e Grêmio, quarta-feira retrasada, na arena da equipe
gaúcha, em Porto Alegre, o goleiro Aranha foi chamado de “macaco” por
torcedores
gremistas. No dia seguinte, o goleiro, depois de rever as imagens das
injúrias
raciais direcionadas a ele, registrou boletim de ocorrência na 4ª
Delegacia de
Polícia de Porto Alegre.
A torcedora Patrícia Moreira foi flagrada por imagens de TV xingando Aranha,
teve de dar depoimento à polícia e pediu desculpas ao goleiro pelos
xingamentos. Ela, inclusive, queria se encontrar com o jogador, que disse, em
comunicado emitido pela assessoria de imprensa do Peixe, que não queria vê-la
pessoalmente e que prefere esperar o julgamento do caso.
Por causa da atitude dos torcedores, o Grêmio foi excluído
da Copa do Brasil pelo STJD depois de perder o jogo de ida por 2 a 0, em casa. Assim,
o Alvinegro avançou para as quartas de final sem necessidade do jogo de volta e vai enfrentar o Botafogo na
próxima fase da competição. O primeiro jogo está marcado para o dia 1º de
outubro, no Maracanã.